Vinho brasileiro em Portugal? Restaurante em Lisboa decide oferecê-lo na sua carta

Donos da Bica do Sapato introduzem o tinto gaúcho De.O.Rum Ales Victoria na lista de opções à disposição da clientela. Eles reconhecem que há um desconhecimento sobre a bebida produzida no Brasil.
A Bica do Sapato, um dos espaços gastronômicos mais emblemáticos de Lisboa que acaba de ser reaberto, sempre foi conhecida por estar na vanguarda e pela criatividade. E, nesse retorno da casa, fundada no final dos anos de 1990, a inovação, entre outras coisas, vem na forma de um vinho em especial: o De.O.Rum Ales Victoria.
Esse tinto feito 100% com uvas Merlot, envelhecido por 12 meses em barrica de carvalho francês, é produzido na primeira Denominação de Origem Protegida do Brasil, o Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul.
A ideia de colocar um vinho brasileiro na carta, uma das poucas iniciativas do gênero, veio pelas mãos de um dos sócios da casa, o carioca Celso Terra Assunção. Ele foi responsável pela implementação do projeto Spa do Vinho, em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, que, além de ser um complexo de bem-estar e de enoturismo, produz este e outros vinhos em pequena escala, o que os torna especiais.
"A entrada de um vinho brasileiro no nosso restaurante tem a ver com a minha história com o Spa do Vinho. Mas também pela qualidade da bebida e a curiosidade que pode despertar no público", diz Assunção.
Nesse ponto, vale um parêntese: apesar de o Brasil já se destacar no cenário internacional com muitas premiações, em especial com seus espumantes, o custo da importação e o fato do vinho brasileiro não ser tão conhecido no mercado português dificultam a entrada.
"Vamos ver como o público vai receber. Fizemos um esforço dos dois lados para que a garrafa chegasse ao consumidor por 77 euros, ante os 100 euros propostos", diz. No Brasil, o rótulo é mais caro, sai por 83 euros, o equivalente a R$ 520.
Na carta de vinhos da Bica, o tinto gaúcho divide espaço com vinhos de outras regiões consagradas, como Borgonha, na França, e Toscana, na Itália. Sem falar em ícones portugueses como o Barca Velha, do Douro, e o Pêra Manca, do Alentejo, que têm no público brasileiro grandes entusiastas.
Para o sommelier do restaurante, o português Diogo Almeida, o rótulo brasileiro surpreende especialmente pela acidez, que, muitas vezes, fica discreta nos países em que a produção vinícola é mais recente. "É um vinho com corpo médio alto, taninos presentes, mas polidos, devido à barrica estar bem integrada no vinho. Representa bem o progresso do Brasil nos tintos", diz.
Agora, ele quer quebrar a resistência de quem não gosta de arriscar. "É um vinho que nos dá confiança. Vender um vinho do Brasil não é fácil, porque muita gente torce o nariz quando se sugere algo assim tão fora da caixa, mas, depois de aberto, todas as dúvidas dos clientes se dissipam e o vinho brilha", garante.
Almeida acrescenta que também já encontrou vinho brasileiro à venda não em um restaurante, mas no mercado gourmet do El Corte Inglés. "Minha namorada é brasileira e sommelier e me falou do Casa Valduga. Compramos e vamos provar", conta. O referido espumante custa 22 euros de acordo com o site da loja em Portugal.
Em outra frente, o sommelier mineiro Augusto Brumatti revela ao PÚBLICO Brasil a vontade de trazer uma referência do seu país natal para a carta de 1.500 rótulos do Vila Vita Parc, um dos hotéis mais exclusivos de Portugal. "O valor ainda é pouco competitivo, mas pensamos na Cave Geisse para algum momento", projeta.
Fonte: Publico
Por: Vitor Pereira
